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segunda-feira, 26 de março de 2012

A Música no Aprendizado de Língua Estrangeira

A MÚSICA NO APRENDIZADO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA "A música não se constitui apenas em um recurso de combinação de sons, pelo puro prazer estético. Ela é também um recurso de expressão (expressão de sentimentos, idéias, valores, ideologias); um recurso de comunicação (do homem consigo mesmo e do homem com o meio que o circunda); de recreação; de gratificação (psíquica, emocional, artística - gratuidade artística, música pela música, pelo simples prazer de se fazer música); de auto-realização (homem com aptidões artístico-musicais, mais cedo ou mais tarde se direciona neste sentido, seja criando, recriando ou simplesmente apreciando, "contemplando"). E mais, a música é um recurso de expurgação, catarse, maturação emocional, intelectual, social, enfim, um recurso de crescimento". Maria de Lourdes Sekeff Zampronha (trecho extraído do trabalho da referida autora, apresentado no Concurso de Admissão à Academia Nacional de Música - Rio de Janeiro - l978). A MÚSICA Segundo estudos realizados pela Fundação Brasileira de Educação, através de Juçara Jaci Kall Machado e equipe técnica do CEN, alguns pensadores como Platão, Comenius e Pestalozzi, afirmavam que a arte é um elemento constitutivo do processo educativo, primordial e fundamental para a educação e formação do homem na sociedade. "Desde a Grécia Antiga a Música era ensinada a partir da infância, considerado fator essencial na formação dos cidadãos, ocupando a mesma posição da filosofia e da matemática. Desde então a arte era ensinada e valorizada a partir da infância. Através dos tempos, foram feitos vários estudos que confirmaram a afirmação dos pensadores, porém precisavam ajustar-se à integração da arte na educação de forma prática e com embasamento teórico. Isso só aconteceu na metade do século XIX, através de contribuições das áreas de psicologia e antropologia de movimento da Escola Nova, ajustando-as numa melhor metodologia para empregá-las." (MACHADO, Núria, 1994, p.10). Dewey, Lowenfeld e, posteriormente, Herbert Read, pregavam a valorização artística como responsável pelo desenvolvimento da criatividade e do espírito crítico. Segundo esses pensadores, se a educação visa formar homens capazes de usar o raciocínio com espírito crítico, dispostos às mudanças e instrumentalizados para enfrentar a vida, facilmente perceberemos que, usando a ARTE, poderemos estimular o potencial de criação dos alunos, liberando os conflitos e tensões de sua personalidade e avaliando o seu desenvolvimento cognitivo e psicomotor, dando a oportunidade de interpretação e reconstrução da realidade que a cerca. (MACHADO, Juçara J. K. e equipe técnica. "Educação Artística e Musical", p.13-14). "A Música, através dos estímulos conhecidos e desconhecidos que oferece, é uma das melhores maneiras de manter a atenção de um ser humano, espontaneamente. Ela possui linguagem universal, não encontrando barreiras para atingir a sensibilidade humana, e sem, no entanto, tolhir a razão." (MACHADO, Núria, 1994, p.12). "Música é uma das expressões básicas do espírito humano, e veículo das emoções mais importantes de indivíduos e grupos sociais que se manifestam." (MACHADO, Núria, 1994, p.14). "Vivemos mergulhados em um oceano de sons: sons organizados (Música: organizada e constituída com seus elementos básicos - ritmo, melodia e harmonia -, nos mais variados estilos musicais - erudita, popular, folclórica -, instrumental e/ou vocal) e sons desorganizados (os mais diversos sons e ruídos: sons e ruídos produzidos pela natureza, sons corporais, ruídos mecânicos etc). Há som em todo o lugar e a qualquer hora. Respiramos Música, sem nos darmos conta disso. (Itálicos acrescentados pela Mt. Harley L. Gonzalez). Estamos sempre à procura de Música. Por quê? Por que a Música? Que necessidades e desejos humanos ela satisfaz? Que projetos sociais realiza? Enfim, que sentido, que significado?" (MACHADO, Núria, 1994, p.12). E, no que se refere a este trabalho científico, como utilizar a Música na Educação, ou melhor, na Aprendizagem de uma Língua Estrangeira? A MÚSICA NA APRENDIZAGEM Quando estamos trabalhando, ou estudando, e não conseguimos nos concentrar, precisamos de um estímulo. É quando sentimos a necessidade de ouvir uma Música. Deixamos que ela flua, e nos sentimos imediatamente sintonizados. A Música conseguiu colocar-nos em harmonia conosco mesmos e, agora sim, podemos trabalhar, ou estudar. Quando os cantores se exprimem, falam de si mesmos, se realizam em suas canções. Mas não só eles. A "vontade de cantar" está em todo mundo, aparece a qualquer momento. Cantar, tocar para um grupo ou para uma platéia, é um ato de comunicação. A Música, ela própria, funciona como meio de comunicação: nos toques das trombetas militares, no cinema, nas canções e nos melodramas, nos ritos e nas festas tradicionais, nas cerimônias religiosas e civis, nas sala de aula. A Música pode contar histórias, discorrer, raciocinar, e com muito mais freqüência do que se imagina; por isso, a Música é também organizada, em parte, como linguagem. "Tanto nos seres humanos quanto em todas as formas de vida, incluindo organismos compostos por uma só célula, existem centenas de biorritmos únicos e de caráter funcional. Sua duração pode oscilar entre uns poucos segundos e toda uma vida. A base comum de todos os biorritmos parece estar radicada na momentaneidade dos equilíbrios mantidos diariamente pelo organismo entre as dilatações (aberturas) e as contrações (fechamentos) dos distintos órgãos e sistemas de que se compõe." (BAÑOL, 1993, p.67). No que diz respeito ao Ciclo Intelectual, os doutores M. J. Bennet e Rexford B. Hersy, fundamentaram seus trabalhos de pesquisa, baseados nos dados sobre as funções glandulares. "As ondas cerebrais são os biorritmos do córtex cerebral, essa parte do cérebro humano que contém todas as informações aprendidas de caráter consciente e controlável. A música, com todo seu oculto poder, trabalha no estímulo dos biorritmos do córtex.. O córtex cerebral constitui o armazém das quantidades infinitas de informação aleatória ou ao acaso, às quais se pode ter acesso quase imediatamente durante a vigília ou o sono. As características deste ciclo são: concentração, lógica, memória, compreensão, capacidade de respostas, rapidez, agilidade. Vontade e objetividade , todas elas influenciáveis pela ação de músicas especializadas." (BAÑOL, 1993, p.70). "A música e a fala se baseiam na percepção e na interpretação do som que se inicia com uma experiência auditiva. Tanto na Musicoterapia quanto na fonoaudiologia, estamos envolvidos em processos auditivos e na produção e percepção do som." (RUUD, 1991, p.23). "A percepção auditiva abrange a capacidade de distinguir dois sons diferentes, sua altura, seu timbre, sua intensidade ou duração, enfim, todas as características que contribuem para o significado do som. A música e a fala estão vinculadas à capacidade de lembrar e imitar sons." (RUUD, 1991, p.23-24). "A atividade musical e a audição ativa de música podem originar funções que favorecem a aquisição da linguagem, da atenção e da percepção, (...) criando uma experiência de unidade entre linguagem, música e movimento." (RUUD, 1991, p.24). "O desenvolvimento do ser humano é acompanhado pelo som, que está integrado ao ambiente que quase não o percebemos ao nível consciente. (...) Consciente ou inconscientemente, tomamos conhecimento dos sons que nos cercam desde o nascimento. Nosso meio natural de comunicação é o som lingüístico, que primeiro percebemos e depois imitamos." (RUUD, l991, p.25). "De todas as atividades humanas, a fala é provavelmente a mais rítmica e musical. Ao mesmo tempo, a fala e a linguagem são os instrumentos mais valiosos para a comunicação e a memória." (RUUD, 1991, p25). "A música e a linguagem tem tantos pontos de semelhança que os elementos musicais básicos podem ser empregados como um meio de ensinar pessoas deficientes auditivas e outros grupos de deficientes a romper a monotonia verbal e a falar de maneira rítmica e melódica, desenvolvendo e aperfeiçoando, dessa forma, a comunicação com pessoas de audição normal." (RUUD, 1991, p.25). Na entrevista realizada com a musicoterapeuta Harley Lavagnini Gonzalez, a mesma afirmou que para a aquisição de uma nova língua, a estimulação da linguagem através da música, nas ditas "pessoas de audição normal"; citas acima por Even Ruud; é ponto pacífico. E, segundo a mesma, não importa a idade para ser estimulado à aprendizagem, portanto, quanto mais cedo, melhor. Ela cita o exemplo do curso de inglês fornecido nas bancas de revistas, produzido pela Walt Disney: "Magic English". É uma série de vídeos K7, com vários temas, com duração média de 20 minutos. Neste curso, é ensinado o inglês às crianças de 6 meses em diante, que "fixados nos desenhos animados, da TV", ficam "atentos", parando até mesmo de chorar, se assim estiverem. Estas fitas de vídeo, são reedições de desenhos conhecidos da Walt Disney, onde os elementos principais utilizados para a Aprendizagem são os sons e as músicas; sim, pois as imagens, embora muito importantes neste caso, não teriam efeito algum, se não houvesse o SOM, CIENTIFICAMENTE E TECNICAMENTE, UTILIZADOS PARA A PRENDIZAGEM DO INGLÊS, absorvendo a "atenção" tanto de crianças quanto de adultos, que além de ouvirem, repetem as palavras e as canções, segundo instruções/indicações, das próprias lições das fitas de vídeo. Como, então, utilizar a Música na sala de aula? Segundo o Musicoterapeuta Even Ruud, "a aplicação controlada de atividades musicais especialmente organizadas com a intenção de expandir o desenvolvimento e a (...) educação" do homem, são umas das "definições" que a Musicoterapia recebeu, por estudiosos deste século, instalando-a, então, como ciência e profissão. No livro "Princípios Básicos para a Juventude", de Maria Luiza Priolli, a música, como já foi dito anteriormente, possui três elementos fundamentais: o ritmo, a melodia e a harmonia. Cada um deles, por sua vez, é constituído por outros elementos básicos: 1. o ritmo: pelo andamento, pelo compasso; 2. a melodia: pelo som, pelos intervalos melódicos, as escalas, os modos; 3. a harmonia: pelos intervalos harmônicos, os acordes, as cadências. Platão já dizia, que "o ritmo é a expressão da ordem e simetria; penetra por meio do corpo na alma do homem, invadindo todo seu ser e revelando-lhe a harmonia de sua personalidade". Platão também dizia que a sensibilidade humana é afetada pelo ritmo que a música emana. O ritmo está em todas as coisas ao nosso redor, nosso próprio corpo é rico de ritmo: o pulsar dos nossos corações, o andar, o respirar, as palmas, o dançar... O ritmo está presente nas brincadeiras de criança, que também usam melodias improvisadas. "O educador se utiliza da música como recurso lúdico para ensinar. Ritmo, melodia e harmonia - emoção, razão e equilíbrio, respectivamente - quando utilizados devidamente para educar/ensinar, tem efeito poderoso tanto para quem ensina quanto para quem aprende." (GONZALEZ, 1997, p. 12). A bandinha rítmica nas escolas seculares é um momento de alegria, criatividade, relaxamento e emoção. Além de recrear e operar o desenvolvimento motor, desperta o sentimento artístico, disciplina e senso rítmico. Motiva o espírito de equipe, favorecendo a integração social além de servir de subsídio e amparo ao desenvolvimento do ser físico, moral e psicológico. Desinibindo os mais tímidos e aquietando, os mais turbulentos, fazendo-os felizes na medida em que ela própria descobre o próprio ritmo e a própria música. Segundo a Mt. Harley L. Gonzalez, não é necessário que um professor de línguas tenha pleno conhecimento e domínio destes elementos, para se utilizar da Música como recurso no seu ensino. Basta aceitar a importância da Música na educação, compreendendo que ela favorece o seu trabalho e facilita a assimilação, por parte do aluno. Intuitivamente, o aluno de língua estrangeira ampliará o seu vocabulário (memória), treinará a sua pronúncia (dicção) e se tornará desembaraçado (espontâneo), perdendo aquela famosa "vergonha de falar errado". Espontaneidade, enfatiza a Mt. Harley, é aspecto essencial para o desembaraço na conversação, na aprendizagem de idiomas. Um exemplo típico, é quando observamos jovens, adultos e crianças, cantando canções de rádio, de filmes e novelas, em inglês, espanhol, italiano, etc., sem nem mesmo ter estudado estas línguas estrangeiras anteriormente, e, portanto, sem saber o seu significado. A justificativa para este fato é o seguinte: no "processo" de ouvir e repetir (sim, pois "repetir é didática"), a memória vai "arquivando" inconscientemente as palavras e/ou frases; mesmo que não sejam cantadas com a afinação adequada, e mesmo que não conheçam seu significado. Mas, intuitivamente, num momento posterior a este "arquivamento", este "processo" facilitará, se não num todo, pelo menos parte do processo de Aprendizagem da Língua Estrangeira em questão. Na sala de aula, esta Aprendizagem poderá seguir o seguinte esquema: 1. Audição, da canção escolhida (2 vezes pelo menos, para que possa ser bem assimilada, sentida). 2. Repetição Rítmica desta canção (em tá, tá, tá, por exemplo). O movimento rítmico corporal, neste momento, é quase incontrolável. 3. Novamente, Audição. 4. Repetição Melódica (em bocca chiusa - termo italiano que significa boca fechada, murmurando -, ou em lá, lá, lá). 5. Repetição em partes (frases, por exemplo). 6. Cantar a Música inteira (quantas vezes o professor achar necessário, cuidando para que não canse o aluno - o que poderia trazer aversão à música e/ou a esta atividade, prejudicando a Aprendizagem, tanto para o professor, quanto para o aluno. Seguindo este esquema sugerido, pela Musicoterapeuta Harley Lavagnini Gonzalez, o aluno desenvolve, então, espontaneamente, a atenção, a memória, e a linguagem, atingindo, deste modo o(s) objetivo(s) do professor de Língua Estrangeira. Para Kant, "desenvolver em cada indivíduo toda a perfeição de que ele é capaz", é a meta da educação. Gerard Ducourneau (Musicoterapeuta francês) afirma: "sem utilizar a música não é possível atingir essa meta, pois nenhuma outra atividade consegue a tal ponto levar o indivíduo a agir". (MACHADO,Núria, l994, p.19). E continua: "A função da música não é substituir o restante da educação, e sim atingir o indivíduo em sua totalidade". (MACHADO, Núria, l994, p.19). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BADDOCK, Barry J. A Musical approch to Free Language Use, from English Teaching, vol. XXIII, no. 3, july l985. (p.41-42) 2. DAWSON, Collin. Teaching English as a Foreign Language ( A Practical Guide). 3. DUCOURNEAU, Gérard. Introdução à Musicoterapia. 1º. ed. Manole, S.P., l984. 4. Entrevista com a Musicoterapeuta Harley Lavagnini Gonzalez. Junho de 1998, Natal, R/N. 5. GONZALEZ, Harley L. A Musicoterapia e o Objeto Intermediário. F.A.P. Curitiba, l997. 6. Mc DONALD, David. Singing Can Break the Conversation Barrier, from English Teaching Forum, vol. XXII, no. 1, january 1984. (p.35) 7. MACHADO, Núria P. Introdução à Musicoterapia. Clínica-Escola de Musicoterapia. Curitiba, l994. 8. OSTOJIC, Branko. Music can Help, from English Teaching Forum, vol. XXV, no. 3, july 1987. (p.50-51) 9. PAUL, David. Songs and Games for Children. Heinemann English Language Te. 10. PRIOLLI, Maria Luisa de M. Princípios Básicos da Música para a juventude. Casa Oliveira de Músicos Ltda. V.1, R.J., 1984. 11. REILLY, Vanessa & et. Al. Very Young Learners. Editora Resource Books for Teachers. Series Editor - ALAN MALEY. Oxford University Press 1997. 12. RUUD, Even. Caminhos da Musicoterapia. Summus, S.P., l990. 13. RUUD, Even. Música e Saúde. Summus, S.P., 1991. 14. STEFANI, Gino. Para Entender a Música (traduzido do original italiano "Capire la Musica", l985). 1º. Ed. Ed. Globo, R.J., l987. ENTREVISTA COM A MUSICOTERAPEUTA HARLEY LAVAGNINI GONZALEZ SOBRE A MÚSICA NO APRENDIZADO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA 1. O QUE É MÚSICA? R: Existem muitas definições para a MÚSICA. Por exemplo: "A Música é a arte dos sons". Mas no que se refere a este trabalho científico, a Música é um recurso para a aprendizagem. É o instrumento do professor de língua estrangeira, que possibilitará ao aluno aprender o idioma escolhido, com maior facilidade. Ou seja, a música é um facilitador na educação; neste caso, da língua inglesa. 2. QUAIS OS BENEFÍCIOS QUE A MÚSICA PODE TRAZER PARA A APRENDIZAGEM? R: O benefício maior é a Estimulação. A Música, através de canais inconscientes, viabilizará a Aprendizagem, quebrando qualquer barreira do consciente. A estimulação da linguagem através da música nas "pessoas de audição normal" (conforme disse Even Ruud, no seu livro "Música e Saúde"), é ponto pacífico. 3. EXISTE IDADE PARA QUE ALGUÉM QUE QUEIRA APRENDER INGLÊS SEJA ESTIMULADO PELA MÚSICA? R: Na realidade, não. Portanto, quanto mais cedo , mais fácil será esta Aprendizagem. Um exemplo disso é o curso de Inglês fornecido nas bancas de revistas, produzido pela Walt Disney: "Magic English". É uma série de vídeos K-7, com vários temas, com duração média de 20 minutos. Neste curso, é ensinado às crianças de 6 meses em diante, que fixados nos desenhos animados, da TV , ficam atentos, parando até mesmo de chorar, se assim estiverem. Posso citar o meu sobrinho de 1 aninho de idade, que aos 6 meses, quando chorava, sua mãe, que é professora de Inglês de uma escola conceituada em Curitiba/PR, colocava para ele uma fita deste curso de Inglês, e, então, o neném que parava no mesmo instante que escutava o assovio do "Peter Pan". Era incrível de se ver! E, no decorrer do desenho, ele sorria várias vezes, dançava, balbuciava sons, como se quisesse repetir, com os olhos fixos na tela de TV, e não adiantava o que fizéssemos para tirar-lhe a atenção, ou que barulho tivesse na casa, ele mantinha-se atento no decorrer do desenho que estivesse assistindo. Logicamente ela não colocava o neném para ver desenho somente quando ele chorava. Este é apenas um exemplo do que os efeitos e recursos usados neste curso (Magic English) é capaz de fazer. Estas fitas de vídeo, são reedições de desenhos conhecidos da Walt Disney, onde os elementos principais utilizados para a Aprendizagem são os sons e as músicas; sim, pois as imagens, embora muito importantes nesse caso, não teriam efeito algum, se não houvesse o SOM CIENTIFICAMENTE E TECNICAMENTE, UTILIZADOS por conhecedores em recursos sonoros PARA A APRENDIZAGEM DO INGLÊS, absorvendo a "atenção" tanto de crianças quanto de adultos, que além de ouvirem, repetem as palavras e as canções, segundo instruções/indicações, das próprias lições das fitas de vídeo. 4. É NECESSÁRIO QUE UM PROFESSOR DE LÍNGUAS CONHEÇA MÚSICA PARA UTILIZÁ-LA COMO RECURSO NA SALA DE AULA? R: Não. Não é necessário que um professor de línguas tenha pleno conhecimento de música e dos seus elementos, para utilizá-la como recurso no seu ensino em sala de aula. Basta que o professor aceite a importância da música na educação, compreendendo que ela favorece o seu trabalho e facilita a assimilação, por parte do aluno. Intuitivamente, o aluno de língua estrangeira ampliará o seu vocabulário (memória), treinará a sua pronúncia (dicção) e se tornará desembaraçado (espontâneo), perdendo aquela famosa "vergonha de falar errado". 5. QUAL É, NA SUA OPINIÃO, O ASPECTO MAIS IMPORTANTE PARA A APRENDIZAGEM DE UM IDIOMA? R: A Espontaneidade é aspecto essencial para o desembaraço na conversação e na aprendizagem geral de um idioma. Um exemplo típico, é quando observamos jovens, adultos e crianças, cantando canções de rádio, de filmes e novelas, em inglês, espanhol, italiano, etc., sem nem mesmo terem estudado estas línguas estrangeiras anteriormente, e, portanto, sem saber o seu significado. A justificativa para este fato é o seguinte: no "processo" de ouvir e repetir (sim, por "repetir é didática"), a memória vai "arquivando" inconscientemente as palavras e/ou frases; mesmo que não sejam cantadas com a afinação adequada, e mesmo que não conheçam seu significado. Mas, intuitivamente, num momento posterior a este "arquivamento", este processo facilitará, se não num todo, pelo menos parte do processo de Aprendizagem da Língua Estrangeira em questão. 6. POR QUE A ESTIMULAÇÃO ATRAVÉS DA MÚSICA É, NA SUA OPINIÃO, TÃO IMPORTANTE? R: Porque desenvolve no aluno, espontaneamente, a atenção, a memória e a linguagem, atingindo, deste modo os objetivos do professor da Língua Estrangeira. 7. QUE INSTRUÇÕES OU RECOMENDAÇÕES VOCÊ DARIA PARA A APLICAÇÃO DA MÚSICA EM SALA DE AULA, NO APRENDIZADO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA, NESTE CASO, DA INGLESA? R: Na sala de aula, esta Aprendizagem poderá seguir o seguinte esquema: l. Audição, da canção escolhida (2 vezes pelo menos, para que possa ser bem assimilada, sentida). 2. Repetição Rítmica, desta canção (em tá, tá, tá, por exemplo). O movimento rítmico corporal, neste momento, é quase incontrolável. 3. Novamente, Audição. 4. Repetição Melódica (em bocca chiusa - termo italiano que significa boca fechada, murmurando -, ou em lá, lá,lá). 5. Repetição em partes, da canção (frases, por exemplo). 6. Cantar a música inteira (quantas vezes o professor achar necessário, cuidando para que não canse o aluno - o que poderia trazer aversão à música e/ou a esta atividade, prejudicando a Aprendizagem, tanto para o professor, quanto para o aluno. Ivanilda Camargo e Harley Lavagnini Gonzalez Natal/R.N. - 2000

As Principais Correntes Psicológicas e a Musicoterapia

As Principais Correntes em Psicologia 1. O nascimento das Ciências Humanas As ciências humanas começam a surgir a partir do século XIX, mas ainda hoje se acham dilaceradas na tentativa de estabelecer o método adequado à compreensão dos fenômenos do comportamento humano. Simplificando as diversas tendências, podemos dizer que há uma corrente naturalista, derivada de tentativa de adequar o método das ciências da natureza às ciências humanas, e uma corrente humanista, preocupada com a especificidade dos fenômenos humanos e que busca um método diferente daqueles usados até então. As ciências humanas encontram-se também diante de um novo conceito de homem, ferido em seu narcisismo. “Com Copérnico, o homem deixou de estar no centro do universo. Com Darwin, o homem deixou de ser o centro do reino animal. Com Marx, o homem deixou de ser o centro da história (que aliás, não possui um centro). Com Freud, o homem deixou de ser o centro de si mesmo.” (Eduardo Prado Coelho) A epígrafe acima, refere-se ao tema clássico das feridas narcísicas levantado pela primeira vez por Freud e o objeto de reflexão do filósofo francês Michel Foucault. Se lembrarmos que o Iluminismo exalta a razão humana como capaz de entender e dominar a naturezam compreende-se o profundo mal-estar expresso nesta afirmação. Quando estudamos Descartes, vemos que o seu pensamento desemboca num dualismo psicofísico. Para ele o homem é constituído por duas substâncias: uma de natureza espiritual (a res cogitans) e outra de natureza material (a res extensa). Esta última pode ser objeto das ciências da natureza, que mecanicamente explicam o funcionamento da “máquina” do corpo. Mas a res cogitans, lugar da liberdade, só pode ser objeto da reflexão filosófica. Sabemos também, que a corrente empirista, derivada do pensamento de Descartes mas se opondo ao seu racionalismo, preocupa-se com os processos mentais e corporais. Especulando a respeito da natureza dos mecanismos e processos fisiológicos que constituem a base de fenômenos como a percepção e a recordação, os empiristas estabelecem os antecedentes das pesquisas que serão feitas pela medicina do século XIX sobre o fundamento biológico dos fenômenos mentais. Paralelamente, dá-se o desenvolvimento das ciências da natureza (física, química, biologia), na medida em que usam o método experimental. Estabelecido o ideal de cientificidade, ou seja, aceitos os princípios da experimentação e da matematização como inerentes ao conceito de ciência, pergunta-se: como ficam as aspirações das ciências humanas de se constituírem como tal? Para que fique um pouco mais claro as bases filosóficas da psicologia, fiz um esquema simples, que me ajudou a entender melhor as principais correntes em Psicologia: (próxima página). 1.1. Quadro Panorâmico ________________________________________________________________________ Filosofia Filosofia aplicada a Psicologia Positivismo Psicologia Experimental: (Durkheim:l858-l9l7) (1) A Escola russa: Pavlov (2) Psicofísica Alemã (3) Behaviorismo (Psicologia Americana) Fenomenologia (l) A Gestalt (crítica ao Positivismo) (2) A Psicanálise (Freud: l856-l939) 1. Existencialismo (Heidegger:l889-1976) (Sartre: l905-l982) 2. Existencialismo Humanista Tendo este quadro acima, clarificando um pouco a questão filosófica na psicologia, começarei, então, um resumo das Principais Correntes em Psicologia: Behaviorismo, Gestalt e Psicanálise. 2. Behaviorismo: A psicologia Americana Na mesma linha experimental da psicologia alemã, desenvolve-se a psicologia americana, cujos principais representantes são William James, Woodworth, Thorndike, Dewey, Cattell, Titchener. O Behaviorismo é a principal corrente psicológica, cuja incfluência se faz sentir ainda hoje. Behaviorismo significa psicologia do comportamento (behaviour “conduta”). Seu primeiro representante foi Watson (l878-l958). Influenciado pelas pesquisas de zpavlov a respeito do reflexo condicionado, Watson utilizou-as amplamente em experiências com animais, extrapolando as conclusões, posteriomente, para a psicologia humana. Com isso o behaviorismo pretende atingir aquele ideal positivista pelo qual a psicologia, para se tornar ciência, precisaria seguir o exemplo das ciências naturais, tornando-se materialista, mecanicista, determinista e objetiva. São abandonadas todas as discussões a respeito da consciência, conceito filosófico impróprio para uso científico. A introspecção é rejeitada, e o único objeto digno de estudo é o comportamento, em toda a sua exterioridade. Os behavioristas costumam se referir à consciência como sendo uma “caixa negra”, já que inacessível ao conhecimento científico. O que importa é estabelecer as relações causais entre estímulo e resposta (E – R). O behaviorismo nega a existência dos instintos, da inteligência inata e dos dons inatos de qualquer espécie, considerados todos decorrentes da aprendizagem e da influência do meio ambiente. Daí a importância da educação infantil, momento em que se desenvolvem os reflexos condicionados. “Dêem-me doze crianças sadias, de boa constituição e a liberdade de poder criá-las à minha maneira. Tenho a certeza de que, se escolher uma delas ao acaso, e puder educá-la, convenientemente, poderei transformá-la em qualquer tipo de especialista que eu queira (...)independente de seus talentos, propensões, tendências, aptidões, vocações e da raça de seus ascendentes.” (Watson) Após Watson, o behaviorismo teve novo impulso com Skinner (l904). Este, a partir de experiências com ratos e pombos, estabelece as leis de um condicionamento mais complexo do que o clássico ou pavloviano. Trata-se do condicionamento instrumental (operante ou skinneriano). Esse tipo de aprendizagem é feito nas famosas “caixas de Skinner”, onde se coloca um animal faminto: depois de, casualmente, esbarrar deversas vezes na alavanca, ele “percebe” que recebe alimento sempre que a aperta. O apertar a alavanca é a resposta, dada antes do estímulo, que é o alimento. Skinner criou inúmeras dessas caixas, inclusive aquelas em que o animal age visando evitar uma punição, como, por exemplo, saltar antes de um choque elétrico. As descobertas de Skinner são amplamente utilizadas nos Estados Unidos em diversos campos da atividade Humana. As técnicas skinnerianas são usadas também na educação familiar, a fim de criar bons hábitos. Também aparecem nas empresas, a fim de estimular maior produção. No tratamento psicológico de certos vícios, surge a reflexologia, que pretende descondicionar os maus hábitos. Por exemplo: usar reforços negativos para que um alcoólatra tenha aversão à bebida. 3. Fenomenologia: Crítica ao positivismo A fenomenologia é uma filosofia e um método que tem como precursor Franz Brentano (final do séc. XIX). Mas foi Edmund Husserl (l859-l938) quem formulou as principais linhas dessa nova abordagem do real, abrindo caminho de reflexão para filósofos como Heidegger, Jaspers, Sartre, Merleau-Ponty. O esforço de Husserl está orientado para a discussão desta situação gerada pelo positivismo: a crise da filosofia, a crise das ciências e a crise das ciências humanas. Tornava-se urgente repensar os fundamentos e a racionalidade dessas disciplinas e mostrar que tanto a filosofia quanto as ciências humanas são viáveis. A proposta é um recomeço radical na ordem do saber. Retomando a clássica questão da relação sujeito-objeto, colocada desde a teoria do conhecimento cartesiana, o racionalismo enfatiza o papel atuante do sujeito que conhece, e o empirismo privilegia a determinação do objeto conhecido. O resultado dessa dicotomia, em ambos os casos, é a permanência do dualismo psicofísico, da separação corpo-espírito e homem-mundo. A fenomenologia propõe a superação dessa dicotomia, afirmando que toda consciência é intelectual. Isso significa que não há pura consciência, separada do mundo, mas toda consciência tende para o mundo. Da mesma forma, não há objeto em si, independente de uma consciência que o perceba. Portanto, o objeto é um fenômeno, ou seja, etimologicamente, “algo que aparece” para uma consciência. Segundo Husserl, a palavra intencionalidade não significa outra coisa senão esta particularidade fundamental da consciência de ser a consciência de alguma coisa. Portanto, a primeira oposição que a fenomenologia faz ao positivismo é que não há fatos com a objetividade pretendida, pois não percebemos o mundo como um dado bruto, desprovido de significados; o mundo que percebo é um mundo para mim. Daí a importância dada ao sentido ( à rede de significações) A relação mecânica E – R, estabelecida pelo behaviorismo, a fenomenologia contrapõe a oposição existente entre o sinal e o símbolo. Enquanto o sinal faz parte do mundo físico do ser, o símbolo é parte do mundo humano do sentido. A fenomenologia critica a filosofia tradicional por desenvolver uma metafísica cuja noção de ser é vazia e abstrata, voltada para a explicação. Ao contrário, a fenomenologia tem como preocupação central a descrição da realidade, colocando como ponto de partida de sua reflexão o próprio homem, num esforço de encontrar o que realmente é dado na experiência, e descrevendo “o que se passa” efetivamente do ponto de vista daquele que vive uma determinada situação concreta. Nesse sentido, a fenomenologia é uma filosofia da vivência. 3.1.O Existencialismo Martin Heidgger (l889-l976), discípulo de Husserl, na obra Ser e tempo usa o método fenomenológico para discutir e elaborar uma teoria do Ser. Para tal, Heidegger parte da análise do ser do homem, que ele denomina Dasein. Esta expressão alemã significa justamente o “ser-aí”, ou seja, o homem é um ser-no-mundo. Retomando a noção de intencionalidade, o ser humano não é uma consciência separada do mundo, mas ser é “estourar”, “eclodir” no mundo. O “ser-aí” não é uma consciência separada do que ele mesmo não criou e ao qual se acha submetido num primeiro instante: isto chama-se facticidade. Assim, o homem, além da herança biológica, recebe uma herança cultural que depende do tempo e do lugar em que nasceu. A partir do “ser-aí”, Heidegger mostra a especificidade do ser do homem, que é a existência. Se o homem é lançado no mundo de maneira passiva, pode tomar a iniciativa de descobrir o sentido da sua própria existência e orientar suas ações nas direções as mais diversas. A isso se chama transcedência. Nesse processo, o homem descobre a sua temporalidade, pois, ao tentar compreender o seu ser, dá sentido ao passado e projeta o futuro. Ao superar a facticidade, atinge um estágio superior, que é a Existenz, a pura existência do Dasein. Tal passagem se faz com dificuldade, pois o homem, mergulhado na facticidade, tende a recusar seu próprio ser. A angústia retira o homem do cotidiano e o conduz ao encontro de si mesmo. A angústia surge da tensão entre o que o homem é e aquilo que virá a ser, como dono do seu próprio destino. Do sentido que o homem imprime à sua ação, decorrerá a autenticidade ou inautenticidade da sua vida. O homem inautêntico é o que se degrada vivendo de acordo com verdades e normas dadas; a despersonalização o faz mergulhar no anonimato, que anula qualquer originalidade. Ao contrário, o homem autêntico é aquele que se projeta no tempo, sempre em direção ao futuro. A existência é o lançar-se contínuo às possibilidades sempre renovadas. Entre essas possibilidades, o homem vislumbra a morte. O “ser-aí” é um “ser-para-a-morte”. A máxima situação-limite, que é a morte, aparecendo no cotidiano do homem, possibilita a este o olhar crítico sobre sua existência. Embora tenha se preocupado com a questão da existência, Heidegger recusa ser enquadrado entre os filósofos existencialistas, argumentando que as reflexões acerca da existência são, na sua filosofia, apenas introdução a uma análise do problema do Ser, e não propriamente da existência pessoal. Ma não resta dúvida de que inspirou o pensamento dos existencialistas. 3.1.1. Sartre e o Existencialismo O existencialismo sartirano sofreu influências de Husserl, Heidegger, Jasper e Max Scheler. Por meio deles chegou às obras de Kierkegaard (l8l3-l855), filósofo dinamarquês que pela primeira vez lançou o grito de combate contra a filosofia especulativa, opondo-lhe a filosofia existencial. Nessa nova atitude, o filósofo de “carne e osso” se inclui a si mesmo no pensar, que até então se propunha objetivo e distanciado do vivido. Jean-Paul Sartre (l905-l980) escreveu a sua principal obra filosófica “O ser e o nada” em l943. Mas em l938 já havia publicado “A náusea”. Seu pensamento é muito conhecido e gerou, inclusive, uma “moda existencialista”, também pelo fato de Sartre Ter se tornado um famoso romancista e teatrólogo. Sua produção intelectual foi fortemente marcada pela Segunda Guerra Mundial e pela ocupação nazista na França. Pede-se dizer que há um Sartre antes da guerra e outro pós-guerra, tal foi o impacto da Resistência Francesa sobre sua concepção política de engajamento: engajamento este, voltado para a análise da situação concreta em que vive, tornando-se solidário nos acontecimentos sociais e políticos de seu tempo. Ao lado de Simone de Beauvoir, também filósofa existencialista e sua companheira de toda a vida, Sartre participou da vida política não só da França mas mundial. Apesar de marxista, nunca deixou de criticar o autoritarismo. Sartre pertence à ala dos filósofos existencialistas ateus. 3.1.2. “A Existência Precede a Essência” Eis, acima, a frase fundamental do existencialismo. A essência é o que faz com que uma coisa seja o que é, e não outra coisa. Por exemplo, a essência de uma mesa é o ser mesmo da mesa, aquilo que faz com que ela seja mesa e não cadeira. Não importa do que ela seja feita ou o seu tamanho; importa que tenha as características que nos permitam usá-la como mesa. No famoso texto “O existencialismo é um humanismo”, Sartre usa como exemplo um objeto fabricado qualquer, como um livro ou um corta-papel: neles a essência precede a existência. No entanto, a posição de Sartre ao afirmar que a existência precede a essência é a seguinte: significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem tal como ele concebe, se não é definível, é porque primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza humana, visto que não há Deus para a conceber. O homem é, não apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja, impulso para a existência, como ele se deseja após este impulso para a existência; o homem não é mais que o que ele faz. Tal é o primeiro princípio do existencialismo. Tais colocações a respeito do existencialismo poderiam fazer supor que se trata de um individualismo em que um estaria preocupado com a sua própria liberdade e ação. Contra isso Sartre adverte: “Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por quilo que é. Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo o homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir total responsabilidade da sua existência. E, quando dizemos que o homem é responsável por si próprio, não queremos dizer que o homem é responsável pela sua restrita individualidade, mas que é responsável por todos os homens. (...) Com efeito, não há dos nossos atos um sequer que, ao criar o homem que desejamos ser, não crie ao mesmo tempo uma imagem do homem como julgamos que deve ser. Escolher ser isto ou aquilo é afirmar ao mesmo tempo o valor do que escolhemos, porque nunca podemos escolher o mal, o que escolhemos é sempre o bem, e nada pode ser bom para nós sem que o seja para todos. Se a existência, por outro lado, precede a essência e se quisermos existir, ao mesmo tempo que construímos a nossa imagem, esta imagem é válida para todos e para toda a nossa época. Assim, a nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, porque ela envolve toda a humanidade”. Concluindo, o existencialismo é uma moral da ação, porque considera que a única coisa que define o homem é o seu ato. Ato livre por excelência, mesmo que o homem sempre esteja situado num determinado tempo ou lugar. ANão importa o que as circunstâncias fazem do homem, “mas o que ele faz do que fizeram dele”. Mas vários problemas surgem no pensamento sartriano, desencadeados pela consciência capaz de criar valores, ao mesmo tempo que deve se responsabilizar por toda a humanidade, o que parece gerar uma contradição indissolúvel. Sartre se coloca nos limites da ambigüidade, pois, se de um lado a moral é impossível porque o rigor de um princípio leva à destruição, por outro lado a realização do homem, da sua liberdade, implica um comportamento moral. 3.2. A gestalt: Um Exemplo da Aplicaçào da Fenomenologia na Psicologia A Gestalt (ou psicologia da forma) teve como precursor Ehrenfels, que já em l890 falava sobre as qualidade da forma. Mas essa teoria foi desenvolvida de fato no começo do século XX por Köhler e Kofka, que sofreram influência da fenomenologia e, nesse sentido, opõem-se às psicologias de tendência positivista. A psicologia derivada da tendência empirista tentava reduzir a percepção a uma análise rigorosa, até encontrar o “átomo” psíquico fundamental. O mundo percebido pela criança, por exemplo, seira uma grande confusão de sensações, cujos fragmentos seriam trabalhosamente ligados pelo processo de associação, pela qual se faria a organização do mundo em percepções e depois em idéias. Já os gestalistas afirmam, que não há excitação sensorial isolada, mas complexos em que o parcial é função do conjunto. Isso significa que o objeto não é percebido em suas partes , para depois ser organizado mentalmente, mas se apresenta primeiro na sua totalidade (na sua forma, na sua configuração), e só depois o indivíduo atentará para os detalhes. O conjunto é mais que a soma das partes, e cada elemento depende da estrutura a que pertence. Quando ouvimos uma melodia, não percebemos inicialmente as notas de que ela se compõe; por isso podemos ouvi-la com todas as notas diferentes quando transpostas para outro tom e reconhecê-la assim mesmo. No entanto, se uma nota é alterada, altera-se o todo. Na transposição para outro tom, a estrutura da melodia permaneceu a mesma, e no último caso houve alteração estrutural. No dia-a-dia encontramos inúmeros exemplos dessa tendência à configuração. Essa tendência que o sujeito tem para organizar aquilo que é percebido significa a impossibilidade de existir um fato bruto, pois o objeto nunca aparece na percepção tal como existe em si. Ele é elaborado: o sujeito estrutura organicamente coisas apenas justapostas ou leva à perfeição formas apenas esboçadas. Isso explica o nosso comportamento da seguinte maneira: há que partir da admissão de um campo total onde o organismo e o meio entram como dois pólos correlativos que constituem o verdadeiro ambiente da ação. Um espaço se estrutura de forma diferente se o percorro como faminto, como fugitivo, como artista... Daí, explica-se o insight (intuição, iluminação súbita), quando o indivíduo para resolver uma problema, ao perceber um todo, estabelece uma relação entre as formas e dá um fechamento predominando uma determinada forma sobre outra. 3.3. A Psicanálise O termo Psicanálise possui três sentidos: é um método interpretativo (hermenêutica), uma forma de tratamento psicológico (psicoterapia) e é uma teoria, ou seja, um conhecimento que o método produz. A Psicanálise surgiu com Sigmund Freud (l856-l939), médico austríaco, e sua principal novidade encontra-se na descoberta do inconsciente e na compreensão da natureza sexual da conduta. Apesar de também Ter sofrido influência das idéias positivistas e mecanicistas do século XIX, a teoria de Freud é duramente criticada pelas psicologias de linha naturalista, pois não usa a experiência no sentido tradicional do método científico, além de que trabalha com uma realidade hipotética, considerada inverificável nos moldes tradicionais: o inconsciente. No entanto, a hipótese do inconsciente tornou-se fecunda, já que permitiu compreender uma série de acontecimentos da vida psíquica. E, embora o próprio Freud não estivesse vinculado à fenomenologia, é possível estabelecer uma aproximação entre esta e a psicanálise. Afinal, que é Psicanálise? Do ponto de vista ortodoxo, Psicanálise é a ciência do inconsciente. Mas, evidentemente, essa resposta não esgota a significação do temo. Em linhas gerais. Podemos dizer que há pelo menos três formas de responder a essa pergunta, como já disse acima: os três sentidos da Psicanálise. Em primeiro lugar, podemos dizer que Psicanálise é uma teoria geral do comportamento humano. Como tal ela pode ser considerada um Sistema, apesar de partir de pressupostos bastante diferentes de outras Escolas de Psicologia. Como teoria geral do comportamento humano, a Psicanálise constitui uma teoria de personalidade. Essa teoria se apóia em dados clínicos, a partir da psicopatologia e, segundo seus adeptos, tem poder explicativo do comportamento humano. A segunda maneira de conceituar Psicanálise é dizer que ela é uma cosmovisão ou filosofia de vida. Como tal ambiciona ser instrumento interpretativo da história, das artes, da economia, da religião, enfim, da sociedade como um todo. Em terceiro lugar, a Psicanálise pode ser vista como método psicoterapêutico. Como método terapêutico, a Psicanálise se propões trazer ao nível do consciente os fatores pré-conscientes e inconscientes que afetam ou determinam o comportamento do indivíduo. Ela não é, a rigor, um sistema de cura. É antea um processo através do qual ocorre a emersão do sujeito, ou seja, em que o indivíduo toma consciência de sua autêntica motivação. Para esse fim, tradicionalmente, a Psicanálise tem usado três estratégias, com ou sem o famoso divã do psicanalista. Essas estratégias são: a hipnose, a interpretação de sonhos e a livre associação de palavras. A Psicanálise parte do pressuposto fundamental de que existe uma energia psíquica, da mesma forma como existe uma energia física quantificável. Essa energia psíquica é de natureza libidinosa ou sexual, no sentido mais amplo do termo, e exerce grande influência sobre o comportamento humano. Esse pressuposto fundamental é de grande utilidade para a teoria psicanalítica, mas ao mesmo tempo tem sido uma espécie de faca de dois gumes, pois os críticos advogam que até hoje ninguém foi capaz de descobrir instrumentos através dos quais essa energia psíquica possa ser efetivamente medida ou quantificada; entretanto esse fato não depõe contra a teoria psicanalítica. Como se sabe, a teatabilidade de uma hipótese pode ser atual ou potencial. Outro pressuposto fundamental da teoria psicanalíltica é a existência de pulsões ou de instintos básicos que iniciam e direcionam o comportamento do homem. Partindo de um determinismo biológico que caracteriza o pensamento freudiano, o fundador da Psicanálise admitiu a existência de dois instintos básicos. O primeiro desses instintos é eros, que representa o impulso para a vida, para a ação criativa e para a própria preservação do indivíduo. Esse instinto é de natureza sexual, no sentido mais amplo do termo. Não se trata de erótico no sentido popular ou estritamente biológico. Para Freud, erótico é tudo aquilo que contribui para o senso de bem-estar do organismo, para sua integridade e funcionalidade. Assim sendo, mamar para a criancinha é um ato erótico, por se tratar de atividade necessária á própria sobrevivência do organismo. Erótica é também a atividade criativa do artista, na medida em que ela lhe proporciona o senso de bem-estar e de realização pessoal. O segundo instinto básico é o impulso para a morte, para a destruição – thanatos. Para Freud é esse instinto que explica o comportamento agressivo do homem na sociedade. Esse instinto de destruição pode expressar-se na forma de agressão ao semelhante ou pode voltar-se contra o próprio indivíduo, quer no modo brutal do suicídio, quer em forma camuflada, como a anorexia nervosa e outros sintomas patológicos facilmente identificáveis. A princípio Freud não deu muita importância a esse instinto, pois, participando do otimismo que caracterizou o século XIX e a primeira década do século XX, achava que o homem civilizado havia vencido seus impulsos agressivos. Mas o impacto da tragédia da Primeira Grande Guerra Mundial fez com que Freud mudasse seu pensamento. Mesmo assim thanatos nunca foi o foco principal na psicanálise ortodoxa. Um terceiro pressuposto fundamental da teoria psicanalítica e, em certo sentido, um de seus esteios, é a existência de fatores inconscientes na determinação do comportamento humano. Como vimos acima, Freud não foi o primeiro a falar sobre o inconsciente, mas, não resta dúvida de que ninguém antes dele desenvolveu toda uma teoria partindo do pressuposto de sua existência. Para Freud, grande parte do comportamento humano é determinado por fatores inconsciente. O ponto crucial dessa observação de Freud é que ele implica dizer que o homem não é o ser absolutamente racional que pretende. Nesse particular, a teoria freudiana chamou a atenção do homem para si mesmo e o desafiou a explorar seu mundo interior. Freud desenvolveu a Teoria da Personalidade. Num conceito topográfico, Freud concebeu a organização da personalidade em termos de diferentes níveis de consciência: 1. O inconsciente: fica na superfície dessa estrutura. É a noção atual e presente da realidade. 2. O pré-consciente: fica abaixo dessa camada. Constituído de fatores que determinam o comportamento, porém, sem a nítida consciência do indivíduo. 3. O inconsciente: fica num nível mais profundo, constituído de fatores que determinam o comportamento do homem e que não se tornam conscientes a não ser através de métodos psicanalíticos. Esse conceito topográfico da estrutura da personalidade podia prestar-se facilmente a distorções do seu verdadeiro significado. É como se Freud estivesse sugerindo que a personalidade é constituída de camadas estanques ou de segmentos isolado Essa não era a intenção de Freud. Daí sua opção por um modelo estrutural mais dinâmico, segundo o qual há três fatores constituintes da personalidade humana o: id, o ego, e o superego. São três fatores que interagem dinamicamente. É da interação dinâmica desses três fatores que resultam os padrões típicos de comportamento do indivíduo. Dessa interação resulta o conceito geral de personalidade humana. O primeiro elemento dinâmico da personalidade é o id, que representa as forças instintivas da natureza e é orientado pelo princípio do prazer; representa os impulsos naturais do homem como ser biológico. O processo de socialização do indivíduo tende a recalcar esses impulsos, mas freqüentemente eles afloram no comportamento, quando o homem busca a redução da dor ou do desconforto e o aumento do prazer. O segundo fator dinâmico da personalidade é o ego, que representa o princípio da realidade: “Sob a influência do mundo externo que nos cerca, uma porção do id sofreu um desenvolvimento especial. Do que era originalmente uma camada cortical, equipada com órgãos para receber estímulos e com disposição para agir como um escudo protetor contra estímulos, surgiu uma organização especial que, desde então, atua como intermediário entre o id e o mundo externo. A essa região da nossa mente damos o nome de ego.” (Freud) O superego representa o terceiro fator dinâmico na estrutura da personalidade, segundo a teoria freudiana. O superego corresponde às forças repressivas da sociedade, ou, num sentido mais amplo, da civilização. No processo de socialização o indivíduo vai introjetando ou assimilando os valores de seu mundo maior. É desse processo que resulta a formação de uma consciência moral. É disso que resulta o superego do indivíduo, que pode variar em suas exigências de pessoa a pessoa e de cultura a cultura. Freud argumenta, que nesse processo de socialização observamos a influência dos pais, da família em geral, das tradições raciais, nacionais e culturais, bem como as exigências do meio em que o indivíduo vive. Como vimos o id, o ego e o superego não são entidades isoladas e independentes. É a interação desses três fatores ou dessas três dimensões que constitui a personalidade de cada um de nós. O eu de cada indivíduo, portanto, nada mais é do que o ponto de tensão entre as forças instintivas do id, e as forças repressivas do superego. .Freud também desenvolveu uma teoria quanto à evolução do desenvolvimento da personalidade humana. Para ele ao longo de uma energia psíquica de natureza sexual chamada libido. Para ele, portanto, o desenvolvimento humano é uma história de sua evolução psicossexual. Essa evolução psicossexual passa por diferentes estágios, de acordo com as faixas etárias do indivíduo. Na teoria psicanalítica são reconhecidos cinco estágios dessa evolução da libido. A cada um desses estágios da evolução psicossexual corresponde uma característica de personalidade, ou padrão típico de comportamento. Esse fato, em si, é mais importante para a teoria do que a idade que o caracteriza. São os estágios da Evolução da Personalidade: l. A Fase Oral: É o primeiro estágio do processo evolutivo, e corresponde, em linhas gerais, ao primeiro ano de vida do indivíduo. É denominado de fase oral ou erógeno-oral, porque, segundo a teoria, nesse período da vida humana, todo o senso de prazer experimentado pelo indivíduo provém das zonas orais de seu corpo.. Provavelmente, a primeira, ou talvez a única, sensação de prazer que um recém-nascido experimenta é a ingestão de alimento, que se dá através da boca. Nesse estágio da evolução, portanto, a energia libidinal está diretamente relacionada com o processo da alimentação. A principal característica de uma criança nessa idade é sua total dependência do mundo adulto, especialmente da figura materna. A essa fase oral, característica do primeiro estágio da evolução psicossexual, corresponde uma modalidade psicológica encontrada em outras fases da vida, inclusive na vida adulta, chamada de oralidade psíquica ou caráter ora. O caráter oral, na teoria psicanalítica, é aquele cujo modo de adaptação se caracteriza pela predominância de elementos de fixaçào oral. O indivíduo com essa característica é sempre emocionalmente imaturo e dependente de outros em sua vida. Duas manifestações típicas são o alcoolismo e a glutonaria. 2. A Fase Anal: De acordo com a teoria psicanalítica, do início do segundo até o terceiro ano de idade, o indivíduo deriva o senso de prazer da zona anal do corpo. É sabido que nesse período da vida a criança parece sentir considerável prazer em eliminar e/ou reter suas próprias fezes. Franz Alexander diz: “Não é de surpreender quando compreendemos que excremento é a primeira posse da criança/ Para convencê-la a livrar-se dele a intervalos regulares, a mãe oferece atrativos como o elogio ou o doce, ou outras manifestações de afeição. E, portanto, a primeira moeda que a criança pode trocar por outros valores.” (Fundamentos de Psicanálise, p.46). Segundo a teoria psicanalítica, é nesta fase da vida que o ser humano começa a introjetar os valores éticos e morais que comporão o seu superego. É portanto o período crítico da formação da consciência moral do indivíduo. Daí a grande importância desse estágio da evolução psicossexual, pois, dependendo da flexibilidade ou de rigidez das demandas do mundo adulto, o indivíduo pode tornar-se um tipo, dogmático e neurótico, ou um tipo funcional criativo. 3. A Fase Fálica: Este estágio do desenvolvimento da Personalidade corresponde cronologicamente ao período dos quatro aos cinco anos de idade. Os órgãos genitais constituem a zona erógena dessa fase evolutiva. Observa-se na criança acentuado prazer na manipulaçào dos órgãos genitais. É ordinariamente aqui que começa a chamada masturbaçào infantil, cuja significação é freqüentemente exagerada pelos pais. A personalidade em que predominam os elementos de fixação fálica tende a ser exibicionista e agressiva. O tipo fálico ordinariamente se paresenta como indivíduo resoluto e autoconfiante, mas essa ousadia pide esconder uma reação a sentimentos de inferioridade. Esse tipo apresenta também traços de dependência oral, expressos de forma típica na agressão verbal, na pornografia e até mesmo em formas mais sutis como a ironia picante. Do ponto de vista da teoria psicanalítica, o fato mais importante desse período evolutivo psicossexual é o aparecimento do chamado complexo de Édipo. 4. A Fase Latente: Dos seis aos doze anos de idade, em geral, a energia libidinosa desempenha papel relativamente pequeno no processo do desenvolvimento psicossexual do indivíduo. Neste período as energias da criança são quase todas totalmente absorvidas no processo de aquisição de habilidades necessárias ao ajustamento do indivíduo às demandas do meio. Nessa fase da vida até os grupos de brincadeiras são separados por sexo. Como nos outros casos, a esse estágio evolutivo corresponde também um tipo psicológico – o caráter latente. A personalidade latente se caracteriza sobretudo pela indecisão. É o tipo de pessoa que nunca decide o que fazer de sua própria vida. São indivíduos a quem falta um claro senso de sua própria identidade. 5. A Fase Genital: Quando o indivíduo atinge a maturidade biológica, que o torna capaz de reproduzir a espécie, tipicamente a partir do aparecimento da puberdade, se tudo correr bem nas fases anteriores de sua evolução psicossexual, ele alcança o nível genital, que representa o tipo humano considerado normal. A característica psicológica por excelência do caráter genital é a maturidade emocional. Personalidade genital é aquela que sabe o que quer e que é capaz de levar uma vida criativa e responsável. Segundo a teoria psicanalítica, o alvo por excelência do desenvolvimento humano é o tipo genital, o indivíduo emocionalmente bem ajustado e que mantém o necessário contato com a realidade. No dizer do próprio freud, é o indivíduo capaz de amar e de trabalhar (lieben und arbeiten). Esse ajuste emmocional se caracteriza, sobretudo, pela redução da ansiedade e pelo adequado nível de tolerância às ambigüidades da existência humana como expressão da liberdade finita do homem. Mecanismo de Defesa: Desenvolvido principalmente por Anna Freud, o conceito de mecanismo de defesa do eu é de considerável importância, por sua utilidade, à compreensão do processo de ajustamento psicológico do ser humano. Podemos dizer que os mecanismos de defesa são recursos pelos quais o eu procura defender-se de situações que considera ameaçadoras à sua integridade. Os mecanismos de defesa, dentro de certos limites, são perfeitamente normais. Quando, porém, ultrapassam limites razoáveis, são considerados patogênicos, porque se tornam compulsivos e inibidores da criatividade e espontaneidade do indivíduo. Exemplos de Mecanismos de Defesa: Fixação, Regressão, Identificação, Projeção, Racionalização, Recalque e Sublimação. Quanto ao discípulos, Freud teve e tem inúmeros. Alguns ortodoxos (seguidores do mestre à risca) e outros dissidentes (discordam em pontos críticos da teoria e confrontam seus ensinos básicos). Durante toda a sua vida Freud trabalhou sempre no sentido de corrigir sua própria teoria à luz de novos fatos por ele observados, mas demonstrou notória intolerância com aqueles que o criticaram, e que como bom judeu, seguindo o exemplo do apóstolo Paulo, chamava de “cães’. Citarei aqui apenas um, talvez o mais famoso discípulo de Freud, não desmerecendo o valor de seus outros seguidores, que de alguma forma marcaram a história da Psicanálise (seria praticamente impossível, neste trabalho, mencionar todos). Carl Gustav Jung (l875-l961). A relação com Freud foi relativamente curta. Aparentemente, ele era grande demais para ser discípulo de alguém. Apesar de haver sido designado pelo próprio Freud como “príncipe herdeiro’ do movimento psicanalítico, Jung logo se separou do mestre e deu início à chamada Psicologia Analítica, por meio da qual se tornou famoso no mundo científico contemporâneo. O ponto de vista da discordância entre Jung e Freud tem a ver com a natureza da libido. Como sabemos, para Freud a libido é essencialmente de natureza sexual. Jung ampliou esse conceito e, sem negara natureza sexual da libido, a interpretou como energia vital manifesta nas múltiplas atividades do indivíduo. Como conseqüência lógica dessa posição, Jung discordou do conceito freudiano do complexo de Édipo e o interpretou em termos de dependência da figura materna, pois é ela que atende as necessidades básicas da criança. Jung admitiu também que a energia libidinal não se expressa em comportamento heterossexual senão depois da puberdade, o que equivale a dizer que discordou de Freud quanto ao conceito de sexualidade infantil. Quanto à estrutura da personalidade, além do inconsciente pessoal, Jung recolheceu a existência de um inconsciente coletivo. Baseado no conceito evolucionário da similaridade das estruturas cerebrais de todas as raças humanas, Jung postulou a universalidade do inconsciente coletivo. No inconsciente coletivo, diz ele, existem os arquétipos ou tendências herdadas que determinam o comportamento do indivíduo. Jung identificou quatro arquétipos plenos de significação emocional e derivados de mitos de diferentes procedências. Esses arquétipos são: persona, anima, animus e sombra. Persona é a máscara usada pelo indivíduo para esconder o verdadeiro eu, ou de modo menos contundente, é a forma exterior da personalidade, conhecida através do comportamento social esperado pela função que a pessoa exerce. Anima e animus são arquétipos que indicam a bissexualidade do ser humano. Anima é a parte feminina do homem e animus é a parte masculina da mulher. Sombra é o arquétipo que representa o aspecto animalesco da personalidade ou as formas inferiores da vida humana. Esses quatro arquétipos, segundo Jung são sistemas separados da personalidade. Por outro lado, o eu é o arquétipo que dá unidade e estabilidade à personalidade. O eu busca a completa integração da pessoa e representa o impulso para a auto-realização, que tipicamente ocorre na meia-idade, segundo Freud. Outro conceito bastante conhecido da teoria da Carl Jung é o da introversão-extroversão, que indica a direção da energia libidinal em cada pessoa. O indivíduo introvertido é aquele cuja energia libidinal é dirigida para fora do eu. O indivíduo introvertido é aquele cuja energia libidinal é dirigida para dentro do eu. No primeiro caso, a pessoa é influenciada pelas forças do meio e tende a ser sociável e auto-confiante. Por outro lado, o indivíduo introvertido, normalmente é introspectivo e não se deixa influenciar tanto por forças externas ou ambientais. Convém salientar que não existe um tipo puro, mas sim a predominância, em certos indivíduos, de uma ou de outra característica. A Psicologia Analítica de Jung, apesar de não Ter ocupado amplo espaço no campo experimental, exerceu notável influência em áreas como a psiquiatria, as artes, a literatura e religião. Jung era um homem de vasto saber, e sua pesquisa incluiu vários aspectos da cultura. Em face do crescente interesse verificado no Oriente em nossos dias, podemos observar a existência atual de uma crescente valorização da teoria junguiana. 4. O Psicodrama O discutido criador do Psicodrama, Jacob Levy Moreno, nasceu a 19 de maio de 1892, a bordo de um navio que fazia a travessia do Bósforo ao porto de Constança. Aos cinco anos de idade, sua família radicou-se em Viena, cidade onde Moreno fez seus estudos. E, l9l2, sendo interno da Clínica Psiquiátrica de Viena, no “serviço” do professor Otto Pötzl, teve um breve encontro com Freud. Em l913 e 1914, participou de uma experiência de readaptação de prostitutas, trabalho feito em pequenos grupos. Durante os anos de 1915 a 1917 teve a seu cargo a assistência dos refugiados tiroleses no campo de Mittendorf, próximo de Viena. As enormes tensões psicológicas que reconheceu nesse ambiente levaram-no a conceber as primeiras idéias sobre as estruturas e geografia psicológica do grupo e sobre as mútuas influências terapêuticas exercidas por seus membros. Neste último ano (1917), Moreno formou-se em Medicina. Durante a sua vida profissional, Moreno voltou sua atenção à Psicoterapia de Grupo e na sociometria, disciplinas que se desenvolveram dentro da estrutura da Psiquiatria e Ciências Sociais. Em 1936, em virtude da intervenção psicanalítica, produzem-se duas correntes no cmpo da Psicoterapia de Grupo: a Sócio-Analítica (a original) e a Psicanalítica. Neste mesmo ano Moreno constrói o primeiro Teatro Terapêutico, centralizando uma Clínica Psiquiátrica e um Instituto formativo. Em 1942, cria, no seio do Instituto de Sociometria de Nova Iorque, a primeira associação que agrupa psicoterapeutas de grupo e funda o Moreno Institute em Nova Iorque. O ano de 1950 é importante para a história do Psicodrama, pois neste ano é feita a intervenção psicanalítica na França, a qual dá origem ao Psicodrama Psicanalítico. E assim o Psicodrama não para de crescer. Mas, então, o que vem a ser o Psicodrama? Qual a visão de Homem na sua aplicação? É uma técnica psicoterápica cujas origens se acham no Teatro, na Psicologia e na Sociologia. Do ponto de vista técnico, constitui, em princípio, um processo de ação e de interação. Seu núcleo é a dramatização. Diferentemente das psicoterapias puramente verbais, o Psicodrama faz intervir, manifestamente, o corpo em suas variadas expressões e interações com outros corpos. Esta intervenção corporal envolve o compromisso total com o que se realiza, compromisso que é fundamental para a terapia e, conseqüentemente, para o indivíduo e para o desenvolvimento de melhores e mais completos meios de comunicação com seus semelhantes. No Psicodrama, não se deixa de fato o verbal, mas, pelo contrário, hierarquizam-se as palavras ao incluí-las em um contexto mais amplo, como é o dos atos. Assim, o indivíduo responsabiliza-se pelo que diz e pelo que faz. Do ponto de vista psicoterápico, esta participação corporal demonstrou, de maneira convincente, ser um valioso método para evidenciar as defesas conscientes e inconscientes do paciente, assim como sua conduta e quadros patológicos. “Historicamente, o Psicodrama representa o ponto decisivo na passagem do tratamento do indivíduo isolado para o tratamento do indivíduo em grupos; do tratamento do indivíduo com métodos verbais, para o tratamento com métodos de ação”. (J. L. Moreno). O Psicodrama, além disso, é uma técnica de Psicoterapia direta, isto é, nela o processo terapêutico se realiza no “aqui e agora”, com todos os elementos emocionais constitutivos da situação patológica, que se expressam através das personagens e circunstâncias concorrentes. O Psicodrama pode assim atuar “in vivo”, objetivando e analisando a situação presente, quantas vezes for necessário para seu esclarecimento e compreensão. Por outro lado, a transferência do Psicodrama vai desde o individual até o social; mais ainda, sua peculiaridades amalgamam ambos de tal maneira que os faz inseparáveis. O enfoque centrado no indivíduo leva, inevitavelmente, ao se reconstruir a cena, ao contexto social em que ela se desenvolveu. O enfoque no grupo social leva, inevitavelmente, ao ser dramatizada a cena, a individualizar as personagens que constituem este grupo e a caracterizá-la. A dramatização permite, assim uma visão conjunta e uníssona destes dois enfoques, bem como de suas interações e influências mútuas. O Psicodrama coloca o indivíduo em seu meio, não o trata como um ser isolado. O homem isolado, só, é uma abstração, não existe. Para ser, nascer, viver e reproduzir-se, necessita de outros. O Psicodrama reconstrói o contexto de cada indivíduo e o põe em movimento. As interações manisfestam-se, e já não é o indivíduo isolado o que dramatiza, mas um grupo que expressa suas características. Não se detém no círculo bipessoal, mas, além dele, estuda e investiga os vínculos multipessoais e suas influências conjuntas, “in voto”, sem separá-los. Relatar linearmente uma determinada situação não é o mesmo que reviver tal situação com todos os personagens atuando ao mesmo tempo, tal como aconteceu. No relato linear, tais personagens vão surgindo uma após a outra, e o paciente irá se referindo ao vínculo e suas características, bem como aos fatos ocorridos entre ele, sucessiva e não simultaneamente. Na técnica psicodramática, a estrutura particular existente no momento dos fatos é de fundamental importância para a compreensão e explicação das condutas ocorridas. É por isso que a reconstrução espacial e temporal faz parte da rotina psicodramática, e, a partir dela, se iniciam as dramatizações. Fica claro, então, que na visão de Moreno, o Psicodrama não vê o Homem como um ser isolado. Para ele ser completo ele precisa interagir bem com o seu meio. Ele dependeu de alguém para nascer e viver e sempre vai precisar de alguém para continuar a viver. Assim como alguém também depende, ou precisa dele. O Homem precisa estar bem como indivíduo isolado para viver bem em sociedade, que precisa dele. E o que é a sociedade? São vários indivíduos vivendo juntos. O Homem precisa da sociedade e a sociedade precisa do Homem. Então a função do Psicodrama é ajudar o Homem que está em dificuldade de interagir com seu meio, a resolver seus problemas; que não são só seus e que não vieram do nada, mas muito provavelmente do meio em que vive – sim, pois ele recebe e dá -; a buscar um equilíbrio de “dentro para fora” e, então, equilibrado, viver bem: no dizer de Freud, o indivíduo capaz de amar e trabalhar (lieben und arbeiten). 5. A MUSICOTERAPIA Ao estudarmos as diferentes teorias e métodos deMUSICOTERAPIA, observamos que há uma conceito de ciência, um conceito de música e, não em menor grau, um conceito de ser humano e da sociedade, implícito em todas elas. O sentido disso é que em quaisquer atitudes que tomarmos como musicoterapeutas, contaremos com hipóteses básicas acerca da natureza do ser humano, isto é, com determinadas perspectivas sobre questões relativas ao papel da linguagem e da cultura, à natureza e o papel da consciência, ao papel de forças econômicas e políticas determinando nossa existência, ao modo como adquirimos conhecimento e assim por diante. O campo da MUSICOTERAPIA é um ponto de encontro único entre arte e ciência, medicina e humanidade; é uma profissão de tratamento onde experiências, reflexões, diálogos e processos estão em luta com terapias que confiam no controle, resultado e ajustamento. Encontramos por trás dessas diferentes técnicas e métodos, um mundo de valores transformados em diversos ideais de ciência. No campo da MUSICOTERAPIA, concepções particularmente diferentes de categorias fundamentais como música, ciência, saúde, terapia, sociedade e ser humano conduzem a modelos musicoterapêuticos tão distintos quanto “improvisação clínica”, ‘MUSICOTERAPIA Analítica”, “música e terapia behaviorista”. O conceito de ser humano é, aparentemente, o mais básico na determinação desses conceitos. Não se pode responder à pergunta “o que é o ser humano” a não ser que surjam conseqüências em nossa compreensão desses outros conceitos. Pergunta-se, então: a MUSICOTERAPIA, com base em suas singulares experiências, pode acrescentar algo ao nosso conceito atual do ser humano? Uma característica da construção de teorias parece ser a tendência à redução. Procura-se explicar com freqüência, em conformidade com um ideal positivista de ciência, o que é complicado pelo que é simples, o chamado “paradigma da unidade”. Esse fato ocorre, com igual importância, quando o ser humano é reduzido a um organismo (biologia) e a música se torna acústica (física): em MUSICOTERAPIA, a questão da influência e amplitude (música) produzem nossas reações autônomas (emoções). Possuímos numerosos exemplos no campo da MUSICOTERAPIA sobre como doenças, incluindo a doença mental, estão se fundamentando numa perspectiva naturalista onde o ser humano é considerado basicamente como sendo controlado por processos biológicos. A nossa questão não é essa pesquisa como uma espécie de pesquisa básica, como uma maneira de formular e testar hipóteses sobre os efeitos da música. O problema parece ser a conexão entre essa pesquisa e uma específica filosofia da ciência que, com base em sua acentuada diferença entre expressões analíticas e sintéticas, deseja excluir qualquer pesquisa que não parta da experiência; uma ciência que considera avaliações e conhecimento formal lógico como subjetivo e normativos e, desse modo, como não científicos. A área behaviorista dessa teoria dá a impressão de ter ocasionado o maior número de conseqüências metodológicas no campo da MUSICOTERAPIA. Conforme o fi lósofo dinamarquês Hans Siggaard Jensen (l986), essa MUSICOTERAPIA contém uma visão sobre a música que se harmoniza com seu conceito naturalista do ser humano, enfatizando a dimensão da força e eficácia da música como reforçador. Admite-se o conceito de música claramente orientado para a “necessidade de gratificação”, isto é, a música deve servir para gratificar necessidades básicas em prol do prazer. E por trás dessa visão, pode-se enxergar valores que colocam “benefícios” como um valor-significado básico e “prazer” como um valor-objetivo básico. Em freqüente oposição ao conceito biológico do ser humano, muitos musicoterapeutas enfatizam aspectos como nossa linguagem e pensamento, nossa capacidade de escolha e responsabilidade e nossa capacidade de nos comunicarmos através de símbolos. Essa posição humanista representa freqüentemente uma posição que tanto revela quanto acrescenta significado. A música é compreendida,em seus próprios termos, como um fenômeno estético e a abordagem humanista torna possível, dessa maneira, uma pesquisa de conexões entre estrutura musical e seu significado ou, como em terapia, entre doença e significado. Observada no contexto de uma filosofia naturalista do ser humano, a música é definida como um sinal de grande valor em terapia para os que procuram estimular atenção e concentração, passar informação, estruturar ações ou provocar uma cadeis de associações. Dentro da posição humanista, enfatiza-se mais a música como um símbolo – a criação de uma mensagem polissêmica através da música. Dentro de um conceito de ser humano que enfatiza o significado de linguagem e pensamento ao se considerar a mudança humana, a música pode vir a se apresentar como um veículo que pesquise e torne experiências de vida visíveis e manejáveis. Mas há também dentro das ciências humanas uma tendência à redução. O ser humano é apresentado como um ser puro, espiritual, sem corpo ou uma cultura. A música assim se torna uma linguagem universal ou espiritual que influencia nossas mentes acima de história ou cultura, conforme aprendemos do antigo paradigma pitagórico. Ou, a partor de posições idealistas antigas e recentes, em que a música é compreendida como uma expressão pessoal “natural”, sendo seu significado extraído de sua morfologia, do significado estrutural da expressão. Quando isso ocorre, estamos ocultando qualquer traço de interação cultural que determine a linguagem da música. Na maioria dos modelos ou sistemas musicoterápicos, os aspectos sociais mais amplos não estão suficientemente presentes. O problema mais importante do campo musicoterápico parece ser o fato de que o ser humano seja compreendido apenas como um organismo ou uma pessoa, e que a base social seja algo remoto. Os musicoterapeutas enfatizam como o indivíduo pode adaptar-se à instituição ou ao ter condições de se adaptar às pessoas e como a música e a MUSICOTERAPIA podem envolver os participantes numa interação significativa. A MUSICOTERAPIA necessitará de um conceito de doença que acentue os aspectos profiláticos de atenção à saúde, tais como esclarecer e impedir o modo pelo qual a sociedade moderna cria a doença. Outro problema é o das conseqüências filosófico-sociais implícitas em vários modelos teóricos e que são raramente discutidas. Ao examinarmos a psicologia da música fundamentando muito da prática e da pesquisa na MUSICOTERAPIA, podemos concluir também que pouco se enfatiza a relação ser humano-música como societária ou vinculada à cultura. Considerar a música como uma instituição cultural, isto é, estar apto a fazer a leitura dos contextos culturais que originam interconexões entre música e identidade e que propiciam uma linguagem para representação de uma experiência musical, pode ajudar o musicoterapeuta a estabelecer as interações musicais fundamentais para a intervenção terapêutica. Atuar musicalmente de acordo com o repertório de códigos musicais do paciente não significa apenas um melhor fundamento para os seus diálogos musicais como também um respeito básico pela sua identidade musical, seus “direitos humanos musicais” (Stefani, l989). Essa tentativa de perceber como nossa socialização musical ou nosso conceito do ser humano são determinados pelas condições estruturais e econômicas da sociedade, pode também ter sua fragilidade. Esse meio de raciocínio pode conduzir ao que é denominado “materialismo mecânico”, isto é, um conceito do ser humano no qual ele é despojado de uma posição de sujeito, onde as raízes de nossa subjetividade no corpo, emoção e linguagem são eliminadas. Parece razoável que, em vez de reduzir nosso conceito de música e nosso conceito de ser humano a uma dimensão de nossa existência, estabeleça-se para a MUSICOTERAPIA sua natureza interdisciplinar. Poderia se afirmar que existe uma simplificada tradição pitagórica, predominante no pensamento contemporâneo em torno da MUSICOTERAPIA, transmitindo que “uma força básica na música é que efetua modificações no comportamento humano”. Quando se diz simplificada é porque a antiga tradição pitagórica enfatiza nitidamente que pensamento e reflexão eram componentes do processo catártico. E é essa ausência de reflexão e possibilidade de contemplar a experiência da música que pode ameaçar reduzir a musicoterapia à tecnologia pura. Mais objetivamente falando: o musicoterapeuta behaviorista positivista tem reduzido a questão da influência da música a uma questão do controle da música como um reforçador. O conceito do ser humano como um indivíduo sob experiência e ação é completamente abandonado em benefício de um ser humano direcionado ao exterior, o ser humano como um objeto. No chamado mo vimento da “Nova Era”, último acréscimo às teorias de MUSICOTERAPIA, relacionado com as terapias humanistas, pode se encontrar um tipo de idealismo filosófico. Isto é, uma crença em forças independentes dentro da música, capazes de influenciar “forças espirituais” dentro do ser humano. Neste caso, está em foco a influência de teorias recentes dentro da física onde a matéria é concebida como “forças”e onde “tudo é uma massa em vibração” – filosofia que dá à música um status específico de massagem existencial. Nesse caso o conceito de ser humano como ser autodeterminante também é deixado de lado, assim como a necessidade de postular tanto o “sujeito” quanto “a ação” como partes constitutivas dos processos envolvidos. Na MUSICOTERAPIA improvisada e centrada no diálogo é que, em primeiro lugar, tal sujeito em ação é enfatizado. Nesses casos, em que o paciente e o terapeuta dentro de uma improvisação têm as mesmas possibilidades de influenciar os processos musicais, podemos ter criado uma estrutura apta a proporcionar ao paciente um status de sujeito. A ênfase no “ser humano consciente e atuante” poderia ser testada por desprezar anos de psicologia clínica, como sua insistência nos aspectos mais irracionais do ser humano: o poder do corpo e da emoção. Parece também próximo da MUSICOTERAPIA a construção de seus modelos a partir de uma perspectiva de ser humano onde experiência e ação incluam e levem em consideração, quando as teorias são construídas, o corpo e a emoção. Na MUSICOTERAPIA improvisada, assim como na MUSICOTERAPIA receptiva, não existe apenas uma questão de como processar a informação inerente aos códigos musicais ou como ler o significado aguardado. A música e a experiência musical se tornam estéticas ao se reescrever essa experiência musical não-verbal e, às vezes, baseada no corpo. Nesse nível da experiência musical, a música não é mais uma linguagem “não-verbal” – ela é, de preferência, uma experiência “polissêmica”. As possibilidades de se alcançar experiências não-verbais ou baseadas no corpo surgem quando a música penetra em áreas não pesquisadas do corpo e da mente e quando as experiências resultantes estão prestes a ser traduzidas ou representadas em nossa linguagem verbal. Podemos fazer uma leitura de tais representações com base no contexto cultural do qual fazem parte, como expressões e negociações acerca de temas importantes inseridos de uma cultura. O musicoterapeuta, então, necessita ter uma compreensão músico-cultural, um profundo respeito pelo indivíduo e, às vezes, uma representação cultural da música. Se é permitido ao paciente manter sua posição cultural pessoal, a música pode se tornar um catalisador, um ponto de partida para que se reescrevam experiências pré-verbais. Outro aspecto pode ser acrescentado à teoria no tocante à utilização da música em terapia: o ser humano como improvisador. A “fantasia psicológica” que é necessária para se transformar uma experiência musical em conceitos verbais pode estar em conformidade com um modelo teórico que enfatiza a improvisação musical. Em um mundo, no qual o sujeito atuante anteriormente valorizado em alto grau se transformou numa espécie de “razão instrumental”, colocou o ser humano numa posição externa e dominante em relação à natureza e ao ambiente, parece necessário que se trabalhe em direção a um conceito do ser humano onde os aspectos ecológicos, a coexistência com seu ambiente, sejam realçados. Possivelmente, num futuro próximo, possamos necessitar de um ser humano improvisador como uma base para o ser humano atuante, que possa viver num processo onde a estabilidade e a segurança interna, como pressuposição e resultado de sua capacidade de improvisar, possibilitem a flexibilidade psíquica. Para que isso ocorra, torna-se necessário uma pessoa não apenas apta a se reajustar num mundo em mudanças, mas uma pessoa que, em suas categorias verbais, absorveu uma extensa porção da realidade e onde a base para a experiência inclua reações corporais, novos textos psíquicos assim como a compreensão dos processos culturais e suas interações com as estruturas políticas e econômicas da sociedade. Se a MUSICOTERAPIA se entende como uma parte do movimento cultural e não apenas como uma profissão de tratamento, ela pode dar uma importante contribuição à formação de tal conceito do ser humano. 6. Conclusão Ficou claro para mim, a importância que se tem em se compreender os aspectos filosóficos e as correntes em psicologia. A MUSICOTERAPIA, sendo uma ciência nova – mais nova que a psicologia -, procura se definir, ainda, como tal. Creio que cabe a cada profissional musicoterapeuta continuar em busca do ideal, fundamentar-se o máximo possível. Creio que, sobretudo, a questão ética deve ser respeitada enquanto se busca um posicionamento, ou mesmo quando já se tem uma posição: respeito ao paciente, enquanto ser humano, respeito aos profissional colegas de profissão e aos demais profissionais de qualquer área, respeito à ciência, respeito ao que busca definir-se e ter sua própria opinião, respeito à sociedade... respeito. Para mim todas as correntes filosóficas e psicológicas tem o seu valor, a sua contribuição, embora não fossem completamente perfeita. Mas todas procuraram a verdade, procuraram contribuir para a humanidade. Quanto a mim, o fundamental é a busca do equilíbrio: o indivíduo não é feito de partes separadas; elas são distintas mas precisam interagir em harmonia. Assim, também, o mundo (sociedade) não se movimenta se não interagirem todos os fragmentos da sociedade harmoniosamente. Todas as partes se completam. É como um quebra-cabeça, onde as partes se encaixam. Minha visão de ser humano é de que ele existe para ser feliz: mente corpo e espírito unidos e em equilíbrio. Creio que a MUSICOTERAPIA pode contribuir para que o indivíduo em desequilíbrio encontre o seu equilíbrio e viva feliz, e creio que ela também pode evitar esse desequilírio. A música pode enaltecer, como também pode denegrir o homem. Cabe a nós profissionais ajudar o HOMEM a usá-la bem. Ela é um poderoso instrumento para se atingir os mais alto estágio de felicidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena P. Filosofando. São Paulo: Moderna, l986. 2. CORDIOLI, Aristides Volpato. Psicoterapias: abordagens atuais. Porto Alegre: Artes Médicas, l993. 3. Grande Esciclopédia Larousse Cultural. Círculo do Livro. 4. ROJAS-BERMÚDEZ, Jaime G. Introdução ao Psicodrama. São Paulo: Mestres Jou. 5. ROSA, Merval. Introdução à psicologia. Petrópolis: Vozes, l995. 6. RUUD, Even. Caminhos da musicoterapia. São Paulo: Summus, l990. 7. SEVERINO, Antonio Joaquim. Filosofia. São Paulo: Cortez. 1993.

A cura Através dos Sons - Reportagem ao Jornal de Jundiaí/SP

A cura através dos sons Ouvir uma boa música ou assistir a um concerto musical faz parte do entretenimento e diversão de muitas pessoas. Mas a música é muito mais do que isto; hoje já é comprovado que se trata de uma maneira de aliviar muitas dores, sejam elas, físicas, psicológicas, mentais ou emocionais. Chamada como musicoterapia, a medicina alternativa atrai muitos adeptos, principalmente aqueles que sofreram algum tipo de trauma e ainda precisam se reabilitar. A musicoterapeuta Harley Lavagnini Gonzalez explica que muitos são os casos que aparecem em seu consultório e, para cada um deles, há um tratamento diferenciado. "Não existe uma receita pronta. Cada pessoa é analisada individualmente; é o que chamamos de Identidade da Pessoa (ISO). A partir disso começa o trabalho para saber qual música ou ritmo é ideal para aquela pessoa." Ela lembra que existem alguns especialistas que afirmam que a música de Mozart, por exemplo, é ideal para acelerar o aprendizado. Mas isto não é regra. "Temos que respeitar a identidade cultural de cada pessoa; sons e músicas serão adaptados conforme a vivência de cada um e ainda o que ela gosta de ouvir", lembra. A musicoterapia pode ser trabalhada em diversas áreas. Seja em alguns tipos de doença mental, apoios a fisioterapeutas, fonoaudiólogos ou ainda estimulando pessoas com o auxílio do som. "Muitas crianças têm problemas com a fala e por isso precisam ser estimuladas com sons, seja eles produzidos por instrumentos ou música." Sons e ruídos Utilizar instrumentos musicais ou sons de qualquer natureza são algumas das técnicas do musicoterapeuta. Nos sons (ritmo, harmonia, melodia) e na música (timbre, intensidade e volume) são alguns dos itens trabalhados durante as sessões. A música, segundo Harley, leva a pessoa ao total equilíbrio. "Durante o tratamento podemos utilizar sons de natureza, de determinadas músicas (sons organizados) ou qualquer tipo de ruído que leve ao equilíbrio. O trabalho do profissional é estimular ou reabilitar o paciente", lembra. O paciente passa por algumas etapas, que são a recreação (cantar ou tocar algo conhecido), improvisação, audição e composição. "Quando a pessoa chega neste último estágio, está perto de receber alta. As pessoas começam tímidas e com a música se expressam verbalmente e corporalmente porque vão se soltando e relaxando", conta. Descanso Agora você deve estar se perguntando: e em casa, que tipo de música podemos ouvir para sentirmos mais relaxadas" Segundo a profissional, o gosto da pessoa ainda deve ser respeitado. "Não vou dizer qual o estilo musical as pessoas devem ouvir. Até porque gosto não se discute. Só digo que, quando a pessoa quer relaxar é preciso que a música seja ouvida em um tom sempre baixo." Ela enfatiza que a frase "quem canta seus males espanta" realmente é verdadeira. "As pessoas se libertam com uma música e o som realmente faz maravilhas."

Musicoterapia no Processo de Reabilitação

A MUSICOTERAPIA NO PROCESSO DE REABILITAÇÃO Reabilitação significa "readquirir ou restituir a estima pública ou particular". Em outras palavras, e do ponto de vista terapêutico, tornar o indivíduo um ser novamente hábil, capaz ou apto a realizar habilidades outrora perdidas, sejam elas emocionais, psicológicas, físicas, intelectuais, através de estimulação eficaz. E onde entra a música? A música sempre foi uma constante na vida do homem desde os primórdios da humanidade, e podemos encontrar provas disso em registros egípcios antigos, por exemplo. Nos E.U.A., desde a Primeira Guerra Mundial, os hospitais de veteranos contratavam músicos profissionais como "ajuda musical" na reabilitação dos mesmos. Interesses médicos foram atraídos devido aos resultados positivos desta ação. Surgiu então, a necessidade de um treinamento específico para fazer do músico um terapeuta. Em 1950, foi fundada a National Association for Music Therapy, e, desde então, a Musicoterapia cresceu para o mundo inteiro como profissão necessária e reconhecida. Segundo a Dra. Poch, fundadora da Associação Espanhola de Musicoterapia: "A música é, por excelência a linguagem da afetividade, do que não pode ser expresso por palavras, por isso a psicoterapia moderna a considera capaz de influir sobre as emoções humanas com mais intensidade e rapidez do que as demais belas-artes. Seu poder característico de influir sobre os sentimentos incide com mais força quando se atravessa um estado de exaltação ou depressão. Daí a importância que está adquirindo a Musicoterapia no momento de tratar todo tipo de problema". Da primeira infância à terceira idade a Musicoterapia pode significar, para as pessoas que a buscam, um fator de crescimento e uma contribuição para a melhoria da qualidade de vida. As vivências musicais proporcionadas pela Musicoterapia estimulam a criatividade e a autoconfiança, ajudando a mobilizar o potencial de saúde do cliente: reabilitando-o ou habilitando-o. Tocando, cantando, improvisando, acompanhando, re-criando, dançando e ouvindo música, a pessoa partilha a sua experiência em sessões individuais ou de grupo. Nos trabalhos desenvolvidos pela Musicoterapia nos Centros de Reabilitação no Brasil e no mundo, são atendidos crianças, jovens e adultos com diversas dificuldades, dentre elas estão: Distúrbios de Aprendizagem, Déficit de Atenção, Hiperatividade, Dificuldades Emocionais, Dificuldades em Socialização, Dificuldades em Estabelecer Limites, Agressividade, Baixa Auto-Estima, Disfonia, Disartria, Dispraxia, Dislalia, Dislexia, Afasia, Afonia. São tratadas também pessoas com: desordens neurológicas, autismo, deficiência mental, Síndrome de Down, deficiências físicas. O objetivo da Musicoterapia com esta clientela é estimular a sua reabilitação, através de um ambiente apropriado, dos elementos e propriedades da música e de técnicas musicoterápicas específicas para cada caso - considerando o indivíduo como um ser único - seja de forma passiva ou ativa. Quando são crianças e adolescentes ou paciente com idade mental equivalente a estes, as atividades (consignas) são aplicadas de maneira lúdica, onde podem vivenciar suas experiências de maneira agradável e sutil, de modo que sua evolução e sua alta aconteçam a seu próprio tempo. A Musicoterapia se norteia a partir do que chamamos de "O Princípio do ISO". O ISO (palavra de origem grega que significa igual) é a Identidade Sonora, o arquétipo sonoro do indivíduo, pelo qual vai se estabelecer o canal de comunicação entre cliente/paciente e musicoterapeuta, e o vínculo necessário para o processo terapêutico. Para se descobrir o ISO do paciente, o Musicoterapeuta realiza uma Entrevista Anamnésica com o mesmo, ou com o seu responsável, e uma Avaliação Sonoro-Musical (Testificação do Enquadre não-verbal), antes de iniciar o processo terapêutico (o tratamento em si). Mt. Harley L. Gonzalez

Musicoterapia como elemento terapêutico

Musicoterapia: música como elemento terapêutico “Musicoterapia é uma forma de terapia que se desenvolve por meio do uso científico e terapêutico dos sons, da música e seus elementos e de movimentos, visando a melhora da qualidade de vida nos aspectos bio-psico-sociais do indivíduo.” O uso da música como um agente para combater enfermidades é tão antigo quanto a música em si. Acreditava-se que a música era capaz de renovar a harmonia, o ritmo do corpo, as emoções e o espírito do homem. A música no contexto musicoterápico é entendida como qualquer manifestação rítmico-sonora do indivíduo. A produção estética não é objetivo da musicoterapia. A música possui quatro funções principais: ela atua no sentido de melhorar a atenção, vinculada ao treinamento do desenvolvimento motor e/ou cognitivo; estimula habilidades socio-comunicativas; favorece a expressão emocional e esclarecimento, e estimula o pensamento e a reflexão sobre a situação de vida da pessoa. Abordagem humanista-existencial (seguida pela maioria dos Musicoterapeutas) define a música como um meio de comunicação, enfatizando o caráter lingüístido ou comunicativo da música. “Admite-se que a música contenha ou represente emoções que são comunicadas ou transmitidas ao ouvinte”. Na música prevalece o como, ou seja, “como ela é apresentada, no seu conteúdo e expressão”. A música,além disso, apresenta o presente, e não tem meios de expressar negação ou conjunção. Na música “as contradições podem ser apresentadas em conjunto, apresentando, por exemplo, um caráter diferente em melodia e harmonia, como numa estrutura de música polifônica”. Considera-se também, que os motivos rítmicos, harmônicos ou melódicos podem expressar imagens ou sentimentos complexos. No processo musicoterápico, o centro de cada sessao será uma experiência musical. Na experiência musical a relação musical será vivida por cliente, terapeuta e música. A produção musical será o meio pelo qual o cliente poderá exteriorizar conteúdos internos e conflitos emocionais, que serão ouvidos e aceitos pelo Musicoterapeuta. Paralelo ao produzir musicalmente, irá elaborar e processar esses conteúdos, afim de autoconhecer-se e alcançar os demais objetivos do processo terapêutico. Na Musicoterapia utiliza-se tanto o método passivo quanto o ativo, e técnicas tais como: audição, re-produção, improvisação e composição, para se conseguir alcançar os objetivos de cada sessão de musicoterapia. A Musicoterapia pode atuar tanto como terapia principal, como terapia de apoio a outras terapias (fisioterapia, neurologia, fonoaudiologia, psicologia, psicopedagogia, por exemplo) e, portanto, abrange uma diversidade de patologias, tais como doenças respiratórias, doenças renais, doenças mentais, distúrbios comportamentais, câncer, deficiências auditivas, da fala e da linguagem, deficiências físicas, dentre outras. A Musicoterapia, enfim, é uma forma eficiente e peculiar de proporcionar ao cliente/indivíduo um meio de melhorar sua qualidade de vida: “onde a palavra falha a música funciona”(Robbins).

Musicoterapia em Evidência - Mt. Harley